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8.
Neuromodulação cerebral não invasiva: TDCS/ETCC
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (TDCS/ETCC) refere-se a uma técnica de neuromodulação que utiliza uma corrente contínua de baixa intensidade aplicada diretamente no couro cabeludo através de dois eletrodos.
O objetivo é modular a atividade neural de forma segura e não-invasiva a fim de melhorar determinadas condições neurológicas ou psiquiátricas ou reduzir sintomatologias.
Utilizada para tratamento de condições neuropsiquiátricas, como depressão, dor crônica, esquizofrenia (principalmente sintomas negativos), doença de Alzheimer, Parkinson, déficit cognitivo pós-COVID, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), síndrome da fadiga crônica, reabilitação após acidente vascular encefálico (AVE).​
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Técnica promissora no tratamento de diversos distúrbios neuropsiquiátricos.
Mecanismos de ação TDCS
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Modulação da excitabilidade cortical
A TDCS pode modular a excitabilidade cortical, de acordo com a polaridade da estimulação. Se a estimulação for anódica, aumenta a atividade neural nas áreas cerebrais afetadas e nas áreas adjacentes; e se for catódica, diminui. Essa modulação pode afetar o funcionamento das áreas neurais envolvidas.
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Hemodinâmica cerebral
A aplicação da TDCS promove aumento do fluxo sanguíneo na hemodinâmica cerebral, independente de disparar o neurônio.
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Neuroplasticidade
A TDCS pode promover a neuroplasticidade. Permite a reorganização e adaptação das redes cerebrais e compensação das áreas afetadas, o que contribui para a recuperação e /ou melhora funcional.
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Efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores
Alguns estudos sugerem que a TDCS pode ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, embora haja necessidade de mais pesquisas na área.
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Modulação das redes cerebrais
A TDCS favorece a conectividade e o funcionamento das redes cerebrais, pode melhorar a comunicação entre os hemisférios e integrar as informações das diferentes áreas cerebrais.
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Modulação dos sistemas neurotransmissores
A TDCS pode afetar os sistemas glutamatérgico, GABAérgico, serotonérgico e dopimanérgico.
Pode resultar, portanto, na melhora de diversas sintomatologias neuropsiquiátricas e neurológicas.
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Indicações baseadas em evidência TDCS
O artigo "Evidence-Based Guidelines and Secondary Meta-Analysis for the Use of Transcranial Direct Current Simulation (tDCS) in Neurological and Psychiatric Disorders" (Diretrizes baseadas em evidências e metanálise secundária para o uso da estimulação transcraniana por corrente contínua em distúrbios neurológicos e psiquiátricos), publicado em 2021, indica que o uso da TDCS apresenta eficácia no tratamento de diversos distúrbios psiquiátricos e neurológicos.​​
A TDCS é uma opção de tratamento que deve ser realizada junto a outras modalidades terapêuticas, incluindo tratamento medicamentoso, psicoterapia e outros, de acordo com a necessidade de cada caso. ​​
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É também considerada uma opção de tratamento adicional quando outras formas convencionais de tratamento não foram bem sucedidas ou não foram toleradas pelo paciente.
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O uso da TDCS na Depressão
Depressão:
A neurobiologia da depressão apresenta grande complexidade. Além do desequilíbrio dos níveis de neurotransmissores monoamina, outros fatores como processos neuroinflamatórios e a neuroplasticidade desempenham um papel importante no desenvolvimento da depressão.
A aplicação da TDCS promove importantes ações na atividade elétrica cerebral e seus efeitos nos mecanismos neuronal e vascular resultam em melhoras nos sintomas depressivos.
Apresenta Grau A de evidência revelando ser um tratamento potencial para depressão associado a outras terapêuticas, a depender da gravidade do quadro, como tratamento medicamentoso e psicoterapia.
A resposta da aplicação da TDCS varia de acordo com o tempo da doença, a gravidade dos sintomas e as características individuais do paciente.
O uso da TDCS na Dor crônica
dor neuropática | fibromialgia migrânea | dor pós-operatória aguda ou crônica.
O processamento da dor envolve o córtex pré-frontal através de várias vias neurais e neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina, dopamina e glutamato. A dor aguda e crônica modifica esses neurotransmissores, além de provocar neuroinflamação no córtex pré-frontal; essas mudanças resultam em alterações na sua estrutura, atividade e conectividade.
A dor recorrente promove alterações mal-adaptativas na neuroplasticidade e a neuromodulação por TDCS promove mudanças que podem contribuir para a reversão dessas alterações maladaptativas e para a redução da dor.
Outra influência da TDCS é o aumento da atividade do sistema opioide endógeno; esse sistema libera peptídeos analgésicos naturais que reduzem a dor crônica e proporcionam alívio.
O uso da TDCS na Esquizofrenia
(principalmente sintomas negativos)
A TDCS no tratamento da esquizofrenia ainda precisa ser mais compreendida. No entanto, entende-se que sua aplicação pode modular a excitabilidade neuronal e a neuroplasticidade, o que pode resultar na alteração da circuitaria cerebral referente, principalmente, aos sintomas negativos da esquizofrenia, como anedonia, embotamento afetivo e isolamento social. O alvo terapêutico da estimulação elétrica depende dos sintomas a serem tratados que também podem ser positivos (alucinações e delírios) e relacionados aos déficits cognitivos.
O uso da TDCS no Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Os mecanismos de ação da TDCS no TOC ainda precisam ser mais compreendidos, mas devido sua capacidade de modular a atividade neural, a estimulação elétrica apresenta-se como um tratamento em potencial.
A excitabilidade cortical pode afetar o funcionamento das áreas cerebrais envolvidas na regulação das obsessões e compulsões.
A alteração na plasticidade cerebral pode contribuir para normalizar as alterações mal-adaptativas na circuitaria cerebral subjacentes ao TOC.
A modulação dos neurotransmissores pode regular o humor, a ansiedade e os comportamentos compulsivos, melhorando os sintomas do TOC.
A TDCS pode melhorar a conectividade das redes cerebrais e favorecer, assim, a regulação emocional, a tomada de decisão e a flexibilidade cognitiva, condições importantes para o tratamento.
Pode também ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, visto que pesquisas sugerem que a inflamação e o estresse oxidativo podem estar envolvidos com o transtorno.
Ainda há necessidade de mais pesquisas na área.
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O uso da TDCS na reabilitação pós acidente vascular encefálico (AVE)
A aplicação da TDCS nos quadros de AVE tem sido investigada e entendida como um potencial tratamento para recuperação da funcionalidade do indivíduo.
A TDCS pode modular a excitabilidade cortical e melhorar a reorganização neural | pode promover a formação de novas conexões sinápticas, fortalecer as conexões pré-existentes e compensar as áreas danificadas | pode influenciar a conectividade, melhorar a comunicação entre os hemisférios cerebrais e integrar as informações entre as diferentes áreas | pode afetar os neurotransmissores envolvidos na regulação da função neuronal, plasticidade e recuperação após o AVE | pode reduzir a inflamação e o estresse oxidativo, visto que estes contribuem para a morte celular, portanto, ajuda a limitar a extensão da lesão cerebral e a perda da função associada | e pode também melhorar a função motora.
O uso da TDCS na Doença de Parkinson
A doença de Parkinson está associada a diversas alterações nos circuitos neurais, incluindo disfunção nos neurotransmissores, como a dopamina e no metabolismo neuronal.
A intervenção terapêutica na DP com a TDCS tem o potencial de modular a atividade cerebral e afetar a excitabilidade das áreas alvo, o que pode ajudar a aliviar alguns sintomas relacionados à doença. Os resultados dos estudos preliminares têm sido promissores, principalmente em relação aos sintomas motores, como tremores, rigidez e bradicinesia.
Os benefícios da TDCS na DP inclui melhora na função motora, redução da fadiga, melhora da função cognitiva e do humor.
O uso da TDCS no Transtorno Transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH)
O TDAH é um distúrbio neurobiológico que pode variar significativamente entre os indivíduos e se manifestar de diferentes maneiras. Classifica-se em 3 subtipos:
-
TDAH de tipo predominantemente desatento;
-
TDAH de tipo predominantemente hiperativo-impulsivo;
-
TDAH de tipo combinado.
Os sintomas do TDAH são agrupados nas categorias desatenção, hiperatividade e impulsividade.
A TDCS estimula o córtex pré-frontal dorsolateral.
O uso da TDCS na Epilepsia
A TDCS tem como objetivo reduzir a atividade elétrica anormal no cérebro, a fim de diminuir a frequência e a gravidade das convulsões.
Estudos demonstram que o efeito da TDCS pode ser benéfico, principalmente para pacientes com epilepsia farmacorresistente.
Os protocolos variam e os parâmetros da aplicação depende do tipo de epilepsia e das características individuais de cada paciente.
A maioria dos estudos demonstrou que a TDCS é bem tolerada no tratamento da epilepsia e apresenta poucos efeitos colaterais.