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9.

Neuromodulação cerebral não invasiva: TDCS/ETCC 
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (TDCS/ETCC) refere-se a uma técnica de neuromodulação que utiliza uma corrente contínua de baixa intensidade aplicada diretamente no couro cabeludo através de dois eletrodos. 

O objetivo é modular a atividade neural de forma segura e não-invasiva a fim de melhorar determinadas condições neurológicas ou psiquiátricas ou reduzir sintomatologias.

Utilizada para tratamento de condições psiquiátricas e neurológicas, como depressão, dor crônica, esquizofrenia (principalmente sintomas negativos), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), síndrome da fadiga crônica, reabilitação após acidente vascular encefálico (AVE).​

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Técnica promissora no tratamento de diversos distúrbios neuropsiquiátricos e neurológicos.

Mecanismos de ação TDCS

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Modulação da excitabilidade cortical

A TDCS pode modular a excitabilidade cortical, de acordo com a polaridade da estimulação. Se a estimulação for anódica, aumenta a atividade neural nas áreas cerebrais afetadas e nas áreas adjacentes; e se for catódica, diminui. Essa modulação pode afetar o funcionamento das áreas neurais envolvidas.

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Hemodinâmica cerebral

A aplicação da TDCS promove aumento do fluxo sanguíneo na hemodinâmica cerebral, independente de disparar o neurônio.

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Neuroplasticidade

A TDCS pode promover a neuroplasticidade. Permite a reorganização e adaptação das redes cerebrais e compensação das áreas afetadas, o que contribui para a recuperação e /ou melhora funcional.

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Efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores

Alguns estudos sugerem que a TDCS pode ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, embora haja necessidade de mais pesquisas na área.

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Modulação das redes cerebrais

A TDCS favorece a conectividade e o funcionamento das redes cerebrais, pode melhorar a comunicação entre os hemisférios e integrar as informações das diferentes áreas cerebrais.

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Modulação dos sistemas neurotransmissores

A TDCS pode afetar os sistemas glutamatérgico, GABAérgico, serotonérgico e dopimanérgico.

Pode resultar, portanto, na melhora de diversas sintomatologias neuropsiquiátricas e neurológicas.

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Indicações baseadas em evidência TDCS

O artigo "Evidence-Based Guidelines and Secondary Meta-Analysis for the Use of Transcranial Direct Current Simulation (tDCS) in Neurological and Psychiatric Disorders" (Diretrizes baseadas em evidências e metanálise secundária para o uso da estimulação transcraniana por corrente contínua em distúrbios neurológicos e psiquiátricos) indica que o uso da TDCS apresenta eficácia no tratamento de diversos distúrbios psiquiátricos e neurológicos, como:​​

A TDCS é uma opção de tratamento que deve ser realizada junto a outras modalidades terapêuticas, incluindo tratamento medicamentoso, psicoterapia e outros,  de acordo com a necessidade de cada caso. â€‹â€‹

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É também considerada uma opção de tratamento adicional quando outras formas convencionais de tratamento não foram bem sucedidas ou não foram toleradas pelo paciente.

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Os graus de recomendação, de acordo com a metanálise descrita, são classificados a seguir:

  • Grau A: forte evidência a favor do tratamento;

  • Grau B: evidência moderada a favor do tratamento;

  • Grau C: evidência limitada a favor do tratamento;

  • Grau D: evidência insuficiente para recomendar o tratamento.

O uso da TDCS na Depressão

Depressão: Grau A

A neurobiologia da depressão apresenta grande complexidade. Além do desequilíbrio dos níveis de neurotransmissores monoamina, outros fatores como processos neuroinflamatórios e a neuroplasticidade desempenham um papel importante no desenvolvimento da depressão.

A aplicação da TDCS promove importantes ações na atividade elétrica cerebral e seus efeitos nos mecanismos neuronal e vascular resultam em melhoras nos sintomas depressivos. 

Apresenta Grau A de evidência revelando ser um tratamento potencial para depressão associado a outras terapêuticas, a depender da gravidade do quadro, como tratamento medicamentoso e psicoterapia.

A resposta da aplicação da TDCS varia de acordo com o tempo da doença, a gravidade dos sintomas e as características individuais do paciente. 

O uso da TDCS na Dor crônica
dor neuropática | fibromialgia  migrânea | dor pós-operatória aguda ou crônica. 

O processamento da dor envolve o córtex pré-frontal através de várias vias neurais e neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina, dopamina e glutamato. A dor aguda e crônica modifica esses neurotransmissores, além de provocar neuroinflamação no córtex pré-frontal; essas mudanças resultam em alterações na sua estrutura, atividade e conectividade. 

A dor recorrente promove alterações mal-adaptativas na neuroplasticidade e a neuromodulação por TDCS promove mudanças que podem contribuir para a reversão dessas alterações maladaptativas e para a redução da dor. 

Outra influência da TDCS é o aumento da atividade do sistema opioide endógeno; esse sistema libera peptídeos analgésicos naturais que reduzem a dor crônica e proporcionam alívio. 

Grau B de recomendação.

O uso da TDCS na Esquizofrenia (principlamente sintomas negativos)

A TDCS no tratamento da esquizofrenia ainda precisa ser mais compreendida. No entanto, entende-se que sua aplicação pode modular a excitabilidade neuronal e a neuroplasticidade, o que pode resultar na alteração da circuitaria cerebral referente, principalmente, aos sintomas negativos da esquizofrenia, como anedonia, embotamento afetivo e isolamento social. O alvo terapêutico da estimulação elétrica depende dos sintomas a serem tratados que também podem ser positivos (alucinações e delírios) e relacionados aos déficits cognitivos.

Grau B de recomendação.

O uso da TDCS no Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

Os mecanismos de ação da TDCS no TOC ainda precisam ser mais compreendidos, mas devido sua capacidade de modular a atividade neural, a estimulação elétrica apresenta-se como um tratamento em potencial.

A excitabilidade cortical pode afetar o funcionamento das áreas cerebrais envolvidas na regulação das obsessões e compulsões.

A alteração na plasticidade cerebral pode contribuir para normalizar as alterações mal-adaptativas na circuitaria cerebral subjacentes ao TOC.

A modulação dos neurotransmissores pode regular o humor, a ansiedade e os comportamentos compulsivos, melhorando os sintomas do TOC.

A TDCS pode melhorar a conectividade das redes cerebrais e favorecer, assim, a regulação emocional, a tomada de decisão e a flexibilidade cognitiva, condições importantes para o tratamento.

Pode também ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, visto que pesquisas sugerem que a inflamação e o estresse oxidativo podem estar envolvidos com o transtorno.

Ainda há necessidade de mais pesquisas na área e o grau de recomendação é C.

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O uso da TDCS na reabilitação pós acidente vascular encefálico (AVE)

A aplicação da TDCS nos quadros de AVE tem sido investigada e entendida como um potencial tratamento para recuperação da funcionalidade do indivíduo.

A TDCS pode modular a excitabilidade cortical e melhorar a reorganização neural | pode promover a formação de novas conexões sinápticas, fortalecer as conexões pré-existentes  e compensar as áreas danificadas | pode influenciar a conectividade, melhorar a comunicação entre os hemisférios cerebrais e integrar as informações entre as diferentes áreas | pode afetar os neurotransmissores envolvidos na regulação da função neuronal, plasticidade e recuperação após o AVE | pode reduzir a inflamação e o estresse oxidativo, visto que estes contribuem para a morte celular, portanto, ajuda a limitar a extensão da lesão cerebral e a perda da função associada | e pode também melhorar a função motora.

Quadro motor: grau B

Afasia: grau C

O uso da TDCS na Doença de Parkinson

A doença de Parkinson está associada a diversas alterações nos circuitos neurais, incluindo disfunção nos neurotransmissores, como a dopamina e no metabolismo neuronal. 

A intervenção terapêutica na DP com a TDCS tem o potencial de modular a atividade cerebral e afetar a excitabilidade das áreas alvo, o que pode ajudar a aliviar alguns sintomas relacionados à doença. Os resultados dos estudos preliminares têm sido promissores, principalmente em relação aos sintomas motores, como tremores, rigidez e bradicinesia.

Os benefícios da TDCS na DP inclui melhora na função motora, redução da fadiga, melhora da função cognitiva e do humor.

Grau B de recomendação.

O uso da TDCS no Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um distúrbio neurobiológico que pode variar significativamente entre os indivíduos e se manifestar de diferentes maneiras. Classifica-se em 3 subtipos:

  • TDAH de tipo predominantemente desatento;

  • TDAH de tipo predominantemente hiperativo-impulsivo;

  • TDAH de tipo combinado.

Os sintomas do TDAH são agrupados nas categorias desatenção, hiperatividade e impulsividade.

A TDCS estimula o córtex pré-frontal dorsolateral.

O grau de recomendação é C.

O uso da TDCS na Epilepsia

A TDCS tem como objetivo reduzir a atividade elétrica anormal no cérebro, a fim de diminuir a frequência e a gravidade das convulsões.

Estudos demonstram que o efeito da TDCS pode ser benéfico, principalmente para pacientes com epilepsia farmacorresistente.

Os protocolos variam e os parâmetros da aplicação depende do tipo de epilepsia e das características individuais de cada paciente.

A maioria dos estudos demonstrou que a TDCS é bem tolerada no tratamento da epilepsia e apresenta poucos efeitos colaterais.

Apresenta grau B de recomendação.

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