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Neuromodulação cerebral não invasiva: TDCS/ETCC
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (TDCS/ETCC) refere-se a uma técnica de neuromodulação que utiliza uma corrente contínua de baixa intensidade aplicada diretamente no couro cabeludo através de dois eletrodos.
O objetivo é modular a atividade neural de forma segura e não-invasiva a fim de melhorar determinadas condições neurológicas ou psiquiátricas ou reduzir sintomatologias.
Utilizada para tratamento de condições psiquiátricas e neurológicas, como depressão, dor crônica, esquizofrenia (principalmente sintomas negativos), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), síndrome da fadiga crônica, reabilitação após acidente vascular encefálico (AVE).​
Técnica promissora no tratamento de diversos distúrbios neuropsiquiátricos e neurológicos.
Mecanismos de ação TDCS
Modulação da excitabilidade cortical
A TDCS pode modular a excitabilidade cortical, de acordo com a polaridade da estimulação. Se a estimulação for anódica, aumenta a atividade neural nas áreas cerebrais afetadas e nas áreas adjacentes; e se for catódica, diminui. Essa modulação pode afetar o funcionamento das áreas neurais envolvidas.
Hemodinâmica cerebral
A aplicação da TDCS promove aumento do fluxo sanguíneo na hemodinâmica cerebral, independente de disparar o neurônio.
Neuroplasticidade
A TDCS pode promover a neuroplasticidade. Permite a reorganização e adaptação das redes cerebrais e compensação das áreas afetadas, o que contribui para a recuperação e /ou melhora funcional.
Efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores
Alguns estudos sugerem que a TDCS pode ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, embora haja necessidade de mais pesquisas na área.
Modulação das redes cerebrais
A TDCS favorece a conectividade e o funcionamento das redes cerebrais, pode melhorar a comunicação entre os hemisférios e integrar as informações das diferentes áreas cerebrais.
Modulação dos sistemas neurotransmissores
A TDCS pode afetar os sistemas glutamatérgico, GABAérgico, serotonérgico e dopimanérgico.
Pode resultar, portanto, na melhora de diversas sintomatologias neuropsiquiátricas e neurológicas.
Indicações baseadas em evidência TDCS
O artigo "Evidence-Based Guidelines and Secondary Meta-Analysis for the Use of Transcranial Direct Current Simulation (tDCS) in Neurological and Psychiatric Disorders" (Diretrizes baseadas em evidências e metanálise secundária para o uso da estimulação transcraniana por corrente contínua em distúrbios neurológicos e psiquiátricos) indica que o uso da TDCS apresenta eficácia no tratamento de diversos distúrbios psiquiátricos e neurológicos, como:​​
A TDCS é uma opção de tratamento que deve ser realizada junto a outras modalidades terapêuticas, incluindo tratamento medicamentoso, psicoterapia e outros, de acordo com a necessidade de cada caso. ​​
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É também considerada uma opção de tratamento adicional quando outras formas convencionais de tratamento não foram bem sucedidas ou não foram toleradas pelo paciente.
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Os graus de recomendação, de acordo com a metanálise descrita, são classificados a seguir:
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Grau A: forte evidência a favor do tratamento;
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Grau B: evidência moderada a favor do tratamento;
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Grau C: evidência limitada a favor do tratamento;
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Grau D: evidência insuficiente para recomendar o tratamento.
O uso da TDCS na Depressão
Depressão: Grau A
A neurobiologia da depressão apresenta grande complexidade. Além do desequilíbrio dos níveis de neurotransmissores monoamina, outros fatores como processos neuroinflamatórios e a neuroplasticidade desempenham um papel importante no desenvolvimento da depressão.
A aplicação da TDCS promove importantes ações na atividade elétrica cerebral e seus efeitos nos mecanismos neuronal e vascular resultam em melhoras nos sintomas depressivos.
Apresenta Grau A de evidência revelando ser um tratamento potencial para depressão associado a outras terapêuticas, a depender da gravidade do quadro, como tratamento medicamentoso e psicoterapia.
A resposta da aplicação da TDCS varia de acordo com o tempo da doença, a gravidade dos sintomas e as características individuais do paciente.
O uso da TDCS na Dor crônica
dor neuropática | fibromialgia migrânea | dor pós-operatória aguda ou crônica.
O processamento da dor envolve o córtex pré-frontal através de várias vias neurais e neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina, dopamina e glutamato. A dor aguda e crônica modifica esses neurotransmissores, além de provocar neuroinflamação no córtex pré-frontal; essas mudanças resultam em alterações na sua estrutura, atividade e conectividade.
A dor recorrente promove alterações mal-adaptativas na neuroplasticidade e a neuromodulação por TDCS promove mudanças que podem contribuir para a reversão dessas alterações maladaptativas e para a redução da dor.
Outra influência da TDCS é o aumento da atividade do sistema opioide endógeno; esse sistema libera peptídeos analgésicos naturais que reduzem a dor crônica e proporcionam alívio.
Grau B de recomendação.
O uso da TDCS na Esquizofrenia (principlamente sintomas negativos)
A TDCS no tratamento da esquizofrenia ainda precisa ser mais compreendida. No entanto, entende-se que sua aplicação pode modular a excitabilidade neuronal e a neuroplasticidade, o que pode resultar na alteração da circuitaria cerebral referente, principalmente, aos sintomas negativos da esquizofrenia, como anedonia, embotamento afetivo e isolamento social. O alvo terapêutico da estimulação elétrica depende dos sintomas a serem tratados que também podem ser positivos (alucinações e delírios) e relacionados aos déficits cognitivos.
Grau B de recomendação.
O uso da TDCS no Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Os mecanismos de ação da TDCS no TOC ainda precisam ser mais compreendidos, mas devido sua capacidade de modular a atividade neural, a estimulação elétrica apresenta-se como um tratamento em potencial.
A excitabilidade cortical pode afetar o funcionamento das áreas cerebrais envolvidas na regulação das obsessões e compulsões.
A alteração na plasticidade cerebral pode contribuir para normalizar as alterações mal-adaptativas na circuitaria cerebral subjacentes ao TOC.
A modulação dos neurotransmissores pode regular o humor, a ansiedade e os comportamentos compulsivos, melhorando os sintomas do TOC.
A TDCS pode melhorar a conectividade das redes cerebrais e favorecer, assim, a regulação emocional, a tomada de decisão e a flexibilidade cognitiva, condições importantes para o tratamento.
Pode também ter efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, visto que pesquisas sugerem que a inflamação e o estresse oxidativo podem estar envolvidos com o transtorno.
Ainda há necessidade de mais pesquisas na área e o grau de recomendação é C.
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O uso da TDCS na reabilitação pós acidente vascular encefálico (AVE)
A aplicação da TDCS nos quadros de AVE tem sido investigada e entendida como um potencial tratamento para recuperação da funcionalidade do indivíduo.
A TDCS pode modular a excitabilidade cortical e melhorar a reorganização neural | pode promover a formação de novas conexões sinápticas, fortalecer as conexões pré-existentes e compensar as áreas danificadas | pode influenciar a conectividade, melhorar a comunicação entre os hemisférios cerebrais e integrar as informações entre as diferentes áreas | pode afetar os neurotransmissores envolvidos na regulação da função neuronal, plasticidade e recuperação após o AVE | pode reduzir a inflamação e o estresse oxidativo, visto que estes contribuem para a morte celular, portanto, ajuda a limitar a extensão da lesão cerebral e a perda da função associada | e pode também melhorar a função motora.
Quadro motor: grau B
Afasia: grau C
O uso da TDCS na Doença de Parkinson
A doença de Parkinson está associada a diversas alterações nos circuitos neurais, incluindo disfunção nos neurotransmissores, como a dopamina e no metabolismo neuronal.
A intervenção terapêutica na DP com a TDCS tem o potencial de modular a atividade cerebral e afetar a excitabilidade das áreas alvo, o que pode ajudar a aliviar alguns sintomas relacionados à doença. Os resultados dos estudos preliminares têm sido promissores, principalmente em relação aos sintomas motores, como tremores, rigidez e bradicinesia.
Os benefícios da TDCS na DP inclui melhora na função motora, redução da fadiga, melhora da função cognitiva e do humor.
Grau B de recomendação.
O uso da TDCS no Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
O TDAH é um distúrbio neurobiológico que pode variar significativamente entre os indivíduos e se manifestar de diferentes maneiras. Classifica-se em 3 subtipos:
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TDAH de tipo predominantemente desatento;
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TDAH de tipo predominantemente hiperativo-impulsivo;
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TDAH de tipo combinado.
Os sintomas do TDAH são agrupados nas categorias desatenção, hiperatividade e impulsividade.
A TDCS estimula o córtex pré-frontal dorsolateral.
O grau de recomendação é C.
O uso da TDCS na Epilepsia
A TDCS tem como objetivo reduzir a atividade elétrica anormal no cérebro, a fim de diminuir a frequência e a gravidade das convulsões.
Estudos demonstram que o efeito da TDCS pode ser benéfico, principalmente para pacientes com epilepsia farmacorresistente.
Os protocolos variam e os parâmetros da aplicação depende do tipo de epilepsia e das características individuais de cada paciente.
A maioria dos estudos demonstrou que a TDCS é bem tolerada no tratamento da epilepsia e apresenta poucos efeitos colaterais.
Apresenta grau B de recomendação.